extra! extra! pessoas transgênicas participam de parada gay!

Jun. 30, 2005

de ontem (terça-feira):

hoje presenciei algo que me fez perder totalmente o respeito pelo meu professor de metodologia. fui fazer segunda chamada da provinha dele e ele me colocou na sala do curso de direito onde daria uma aula de sociologia. depois de eu ter acabado a prova, fiquei na aula prestando atenção ao que ele estava dizendo por alguns minutos, para fazer hora até o horário do ônibus de volta pra casa.

não estava acompanhando exatamente o que ele dizia, mas ele começou a falar algo sobre grupos e de repente lançou-se a um exemplo em especial, onde se encontra todo o problema.

ele falou que viu algo sobre a parada gay do rio de janeiro, e falou da sigla GLS.. e disse que há uma outra, GLBT, e que o T é transgênico. eu estava pronta pra cair na gargalhada, quando percebi que ele falava sério. indagou sobre o porquê disso, e “como assim” transgênico? “transgênico não é pra, como é, semente?” daí alguém falou algo sobre mudança de sexo, mudança da natureza do indivíduo, eu não ouvi bem, e entenderam transgênico como uma mudança por manipulação genética. ninguém falou mais nada e não se sabe onde ele queria chegar com o exemplo. pra todo mundo na sala parecia senso comum, depois de explicado, que era mesmo transgênico, e que o significado era… bom, era isso que tinham acabado de falar. levei alguns minutos pra me recuperar, levantar e sair da sala.

quando cheguei em casa e liguei para a minha esposa para contar o que havia acontecido, ela ficou indignada de eu ter ficado quieta. pensando agora, o que eu poderia ter falado? em alto e bom som “é transgênero, suas mulas!"? se eu tivesse corrigido, não me contentaria com tão pouco, e precisaria explicar, o que me deixaria mais frustrada ainda. pelo bem dos meus nervos, eu fiquei quieta. eu quero acreditar que aquelas pessoas, que serão futuros advogados, ou juízes, não sei.. quero acreditar que eles não estavam ouvindo, e por isso também não disseram nada. imaginar tamanha alienação deles quanto às outras pessoas do mundo, e tanta ignorância, estupra a esperança que há em mim de uma nação melhor. e é cada vez mais feio que eu esteja fazendo meu curso em uma instituição paga, porque é tão difícil encontrar um ser pensante, e é cada vez mais feia a vergonha que eu tenho de falar diante das pessoas. um dia alguém vai vir com uma faca pra cima de mim e dizer “fale o que vc entende sobre globalização ou eu te mato!” e eu vou responder “essa sua lâmina é japonesa?”