meu divã é ortopédico

Jul. 25, 2005

a carmen está com alguns problemas. acho mesmo que ela está deprimida. me parece que quando isso acontece com ela a primeira coisa que ela pensa é em fugir. “vou pra são paulo”. ela se fecha, vira uma tartaruga escondida. eu tento falar com ela e ela responde ríspida. suas expressões ficam indefinidas, todas diminuídas a uma única, caracterizada por um protótipo de sorriso com a ponta da boca em um desdém, os olhos fitando o nada, as bochechas imóveis ou levemente trêmulas. a voz muda, também. fica um tom só. eu vou notando uma mudança ou outra, e um dia então ela se quebra. hesita, chora, depois fala tudo de uma só vez e muda seu comportamento drasticamente. tudo em questão de minutos. eu me desmonto, obviamente. só sinto uma sensação gélida subindo pela espinha e pela nuca, até a parte de trás da cabeça. é como se todos os tecidos em volta fossem morrendo, e com eles meu cérebro. minha cabeça fica pesada de repente, e logo em seguida tudo dói, por dentro, como se eu estivesse sendo aberta desde os ossos.

eu queria que ela se abrisse mais comigo. eu sou melhor para resolver os problemas dos outros do que meus próprios. talvez porque quando se está com problemas assim, profundos e devastadores, desses que nos dão a vontade de deixar de existir sumindo numa nuvem de fumaça ou desintegrando sem deixar nem poeira, não conseguimos pensar direito. é difícil fazer com que ela me escute, e a maioria das minhas propostas soam para ela como egoístas e vão contra suas vontades. como se eu quisesse privá-la de fazer suas próprias escolhas. se ela discutisse seus pensamentos e sentimentos comigo seria tão mais fácil. como ela não o faz, eu pedi que ela faça terapia. eu repeti tanto e com tanta convicção os meios e benefícios que ela ouviu alguma coisa e aceitou. agora é ver como vamos progredir.

preenchido com penas de “porquês” intrigantes demais, “porquês” grandes demais e diversos demais, e numerosos demais. análise, preocupação e carinho demasiados. como aqueles colchões ortopédicos, que machucam um pouco se você não tem costume. quem tem confiança em mim deve saber que após o sofrimento do começo, as sessões que se seguem são tão agradáveis e confortantes que dá até para cochilar nesse meu divã.

eu só quero que ela fique feliz sem ter que ir embora, porque ela continuaria triste, e me deixaria muito triste também.

Comentários antigos

michiru
July 25, 2005

E eu naum quero vc triste de jeito nenhum,,, Bju…
(Tô em campo grande, é mole?)
bju

Sakura
August 1, 2005

isso ai.. sem tristeza.. nenhuma das duas… manda a Carmen pra ca q eu terapizo ela… »uahuahuaha.. magina? kiss